No sábado dia 12.05.2012 véspera do
Dia das Mães vários membros de Saraus que acontecem na periferia
paulistana, assim como alguns grupos de rap desceram até a Baixada
Santista para chegar junto ao 6° ano de Resistência do Movimento
das MÃES DE MAIO, mães estas que acordam e dormem todos os dias com
cede de justiça, pelos seus filhos e por tantos outros exterminados
por injuriosos projeteis que saem das armas dos bonecos do Estado.
Estavam presentes capangas do Sarau Da Brasa, Sarau do Binho,
Cooperifa, Sarau da Vila Fundão, Sarau Perifatividade, Sarau da Casa
e seus frequentadores e também integrantes de outros grupos ligados
a luta contra o massacre do Estado seja em São Paulo ou em outras
localidades do nosso país.
Como é de costume das prefeituras do estado de São Paulo, novamente deixaram os nossos na mão, estava
combinado de ter uma estrutura de som para a mobilização e em cima
da hora na sexta-feira à noite falaram que não iria haver mais a
tal estrutura. Mal imaginavam que novamente nós periféricos
mostramos nosso poder de organização, não foi necessário nenhum
equipamento, voz, atitude e corações embalaram à tarde sem nenhum
tipo de tecnologia, os presentes se uniram para escutar os poetas, os
rappers, as MÃES, e tudo foi muito intenso e verdadeiro.
Nós do Sarau da Brasa estamos juntos
na luta com as MÃES DE MAIO e pretendemos continuar reivindicando
justiça, seja pela arte ou qualquer outra forma de manifestação
direta.
MÃES DE MAIO e todos que compareceram
na Baixada Santista e também os que por algum motivo não puderam
comparecer, saibam que o Coletivo Cultural Poesia Na Brasa agradece o
convite e o respeito por nossa correria, a caminhada é longa e
repleta de imprevistos, por isso sabemos que a coletividade real nos
trará melhores dias, assim esperamos.
VÍDEO DAS MÃES DE MAIO NO SARAU DA BRASA
LÁGRIMAS DE SANGUE - FACÇÃO CENTRAL
1997, março, diadema o município;
Uma câmera, uma fita de vídeo;
Mostra pro mundo sangue, ignorância;
Animais com distintivos;
Não entendi a surpresa;
Infelizmente era só um outro dia comum;
Dia de enterro, velório;
Dia em que a polícia matou mais um;
Não entendi a mídia;
Nem os políticos imundos;
Nem a falsa inútil indignação;
Afinal era a polícia deles, fazendo a lei deles;
Fazendo o que eles querem enterrando nosso caixão;
Toda noite em são paulo o sangue escorre;
Governador o cúmplice número um;
Pede desculpas na tv, que piada;
Tem um caixão sendo enterrado;
E uma família chorando a morte;
O presidente dá o tom da hipocrisia;
Felizmente na pm são a minoria;
Não são apenas dez animais dessa maldita corporação;
Milhares de assassinatos passou batido noite e dia;
Por que não chegam na televisão;
Tenho vários exemplos, vi vários enterros;
Eu mesmo fui atropelado mano;
Eu mesmo já fiz acerto;
Eu vi maluco incriminado, crime forjado;
Peteca no bolso e o tambor descarregado;
E outro finado;
Se não existe a pena de morte no brasil;
Por que a pm mata tanto;
Principalmente a rota, puta que o pariu;
Cpi do crime organizado até mudança de lei na legislação;
Tortura de vinte e um anos moral ou física, cadeia pra agressão;
Seja bem vindo ao espetáculo da contradição;
Tortura sempre foi crime hediondo na constituição;
E, no entanto, a polícia sempre matou;
Sempre torturou, sempre mandou pro caixão;
O projeto de lei é de 94;
De lá pra cá quantos finados, milhares de enterrados;
E só agora pra mostrar a atitude pra mídia;
Demagogia, o projeto foi aprovado no senado;
É tão comum á tanto tempo um cadáver na rua se decompondo;
É tão comum á tanto tempo;
Uma família chorando por um outro fulano morto;
Confiar em quem, pedir apoio pra quem então;
Se quem é pago pra nos proteger;
Toda noite na nossa gente descarrega o oitão;
Mas que porra de polícia é essa que não protege;
Preto, branco, pobre, favelado;
Que todo o jovem da periferia é suspeito;
Candidato á finado;
Eu já to cheio de enterro, velório;
Cadáver cercado de velas;
Infelizmente a paz é só embaixo da terra;
Não quero a minha mulher com minha filha do colo;
Chorando lágrimas de sangue me enterrando;
Sinto muito por todas as vítimas, todas as famílias;
Por todas as lágrimas de morte arrancadas pela maldita polícia.
A lágrima que rola do teu olhar;
É tão triste quanto a morte;
Tem o cheiro e a cor do sangue;
Lágrimas de sangue;
"viaturas se aproximam começa o desespero";
Lágrimas de sangue;
"será que é minha hora, eu vou sobra, ficar inteiro".
Chega de lei do silêncio;
Vamos denunciar esses filhos da puta;
Gambé não vai pra cadeia, não perde a farda;
Ainda te mata na seqüência na rua;
Aqui se mata a vítima, se mata a testemunha;
Queima de arquivo;
Testemunhar é dar visto em atestado de óbito;
É bancar o próprio homicídio;
Quem me protege dentro de um barraco de madeira ou papelão;
Sozinho na noite contra vários pms;
Contra dor de pt, contra oitão;
Ouvidor público te pergunto até aonde que isso ajuda;
No país da injustiça o quanto vale a denúncia;
Depois da tortura eu to vendo meu sangue, os meus ossos quebrados;
Só que ainda eu estou vivo;
Não me enterraram agora, não vou correr mais riscos;
Não vou dar motivo;
Talvez esteja até errada a minha opção;
Só que a lei do silêncio é conseqüência da falta de proteção;
Evita caixão;
Se existisse uma câmera filmando perto de todas as táticos;
Não seriam só dez os animais flagrados;
A cada, cada noite o mesmo inferno;
Mão na cabeça, encosta aí, ra-ta-ta-tá cemitério;
Não é o salário que transforma um pm em criminoso;
É o brasil hipócrita que no fundo está do lado deles;
E batem palmas quando matam pobres;
Que vibram no iml quando chega o corpo;
Será que é isso que é justiça;
Será que vamos enterrar pobres mais dois anos;
Pra que tire os benefícios, as legarias da polícia;
E quando a mídia nos abandonar volta tudo de novo;
Infelizmente pra nós não é do presidente;
E nem do governador o próximo corpo;
Queria ver a cara deles num caixão;
Com uma família chorando do lado;
Com um gambé sorrindo, soprando um oitão;
Esse aqui é o brasil contagem regressiva;
Eu estou vivo até uma tático atropelar a minha vida;
Diadema não é mais do que um exemplo;
Do que acontece na zona sul, leste, norte, oeste, no centro;
A diferença é que lá o cotidiano foi filmado;
Só dos finados que eu já vi na minha vida;
Dos que eu contei daria uma longa metragem de mano enterrado;
Faça um role nas periferias, nas favelas, nos cortiços;
Verá que o negro tem nome de polícia, homicídio;
A minha gente tem pouca informação, mas tem memória;
Ninguém esquece um tapa na cara;
Um tiro na cabeça, um caixão descendo nas cordas;
Não quero minha mulher com minha filha no colo chorando;
Lágrimas de sangue, me enterrando;
Sinto muito por todas as vítimas, todas as famílias;
Por todas lágrimas de morte arrancadas pela maldita polícia.
A lágrima que rola do teu olhar;
É tão triste quanto a morte;
Tem o cheiro e a cor do sangue;
Lágrimas de sangue;
"viaturas se aproximam começa o desespero";
Lágrimas de sangue;
"será que é minha hora, eu vou sobra, ficar inteiro".
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