terça-feira, 17 de setembro de 2013

PEDAGOGINGA AUTONOMIA E MOCAMBAGEM NA BRASILÂNDIA


Salve Povo.

No próximo dia 21 de setembro, receberemos em nosso terreiro, o parceiro Allan da Rosa, para o lançamento de seu livro; 

 “PEDAGOGINGA, AUTONOMIA E MOCAMBAGEM”.

Nesse encontro vai rolar uma prosa sobre o trampo, e os vários caminhos que possam passar por essa encruzilhada.

Segue por aqui um punhado do texto, para agunçar o paladar da imaginação antes da roda.


Tod@s são bem vind@s.

SARAU POESIA NA BRASA – BAR DO CARLITA
Às 20h30
RUA PROFESSOR VIVEIROS RAPOSO, 534
VILA BRASILÂNDIA


 DO RITMO

O ritmo é esqueleto etéreo e constitui um território criado. Permeia e organiza os períodos dos cultos e ritos, vige na elaboração de qualquer ação que conjugue os tempos do corpo, do espaço e do entorno social (o envoltório físico/material e simbólico da cidade) e da abrangência da natureza em seus ciclos. Faz-se presente no encontro, na realização de acontecimentos e adventos que costuram possibilidades (poderes) no transitório do tempo do calendário. Ritmo é rito (que, por sua vez, é expressão corporal e emocional do mito), comunitário, engendrador ou realimentador da força. E o corpo, imprescindível ao rito, é o próprio território do ritmo, propiciando ao sujeito a percepção do mundo em seus detalhes, numa integração a partir de si mesmo, de um campo que lhe é próprio e que se resume, em última instância, a seu corpo (Op. cit.: 135). O ritmo, que também é alicerce soberano na expressão musical de matriz africana, é a forma até do que não tem consistência orgânica, é o elo entre o estático e o dinâmico. Confere vínculo aos movimentos, guarda e expande o fluxo de eventos, coisas e afeições. Não lhe falta horizonte, compondo pontos de junção e amarrando elementos, dedicando dinâmica e orientação aos espíritos das coisas e dos homens.30 Ritmo, como pai, irmão e filho do rito, angaria a participação de um grupo no mais total dos atos, que é o ato de viver. Garantidor de rito, cumprimento do mito, elaborando e abrindo passagens ao sentir mitológico.

 DA SEDUÇÃO

As sociedades que cultuam Arkhé possuem apreço pelas regras vitais, fundamentadas a cada ritual, mantendo firmes e brilhantes os laços comunitários. Onde há preceito, há ensinamento, onde há forte regramento, o poder simbólico ganha contornos grandiosos. A cultura afro-brasileira em seus elementos dinâmicos civilizatórios, para vivenciar a regra, desafia o contato, o encontro. E aí está outro de seus princípios que se elabora junto com o jogo, a dança e a luta, abarcando timbres e enigmas, códigos e segredos na presença que chama a sedução, que, na linguagem verbal, mostra-se mais interessada em fascinar (podendo também prestar-se a informar e a ensinar) pela já citada circunlocução do que pela definição que busca a exatidão. Sedução aqui não visa trazer à tona um arraigado leque de estereótipos que ainda hoje são toneladas a serem demolidas, que se atêm a reduzir o corpo e o ser negro a uma demonização centrada no pecado que estaria sempre em ponto de bala; num perigo que caracterizaria os “bamboleios primitivos” de pessoas que deixam de ser pessoas para serem somente objetos fálicos ou genitálias, nádegas ou decotes. Sedução aqui não se agarra a uma noção vulgar, muito menos a baseada na pornografia e na leviandade, ou no medo ou no estupro (onde não há sedução, e, sim, violência); não se ancora no superficial que se estrutura no tremor e em uma das faces da libido reprimida. Tampouco nega a beleza, o vigor e a responsabilidade que podem permear pessoas conscientes do quanto podem lhes proporcionar seus corpos, desde os círculos da rima à consumação do ritmo sexual, dos toques de cuíca à tecelagem ornada em uma cabeça. Sedução aqui se marca pela apresentação de situações, pela dança dos significados possíveis, pela abertura de possibilidades que preenchem indefinidamente qualquer jogo de corpo e todo jogo de inteligências desabotoadas. Como na capoeira angola, quando o jogador visa seduzir seu parceiro-adversário para lhe dar uma rasteira ou lhe encaixar um golpe (que, segundo as regras do jogo, podemreceber aplausos do mesmo, reconhecendo a destreza e a inteligência da movimentação “enxadrista”, aberta à malandragem positiva e à astúcia casada à beleza). Como no jogo das oferendas e ebós orientados por ialorixás a fim de restituir forças e encaminhar a consumação de energias, desejos e perspectivas; como no jogo do ifá, que na configuração dos búzios suscita enigmas, que abre mistérios mas não assassina o segredo, contatando as energias e consciências que circulam nas esferas numinosas; como no jogo dos caxambus, cocos e cirandas, quando um presente no meio da roda chama à umbigada e ao volejo, na intenção de seduzir e sorrir; como no jogo que se dá entre os integrantes de uma parelha tamborzeira que toca seus instrumentos e abre bases e solos, comunicações sublimes de momento, em toques e timbres de marcações sagradas e suadas; como no jogo entre um cozinheiro e as consistências de seus alimentos e as condições materiais de sua cozinha, mirando o prazer do faro e da boca; como no jogo dos partideiros, aboiadores, jongueiros, mestres de catimbós e congados, quando versos pedem desates e decifres, jogando respeitosa e deliciosamente com os riscos e obrigações do destino... Em todas estas faces que saltam ou sussurram na cultura de matriz afro-brasileira, o jogo e sua sedução atiçam e instigam o tempo, na encruzilhada que este perfaz das urgências do agora junto às tradições mais antigas, no encontro com tempos remotos ou míticos que se desabrocham quando são “repetidos” mas reorganizados e reinventados os toques, frases, gestos, cozimentos e costuras que intentam dar guarida ao presente, mantendo a sensação fértil, para que se colha cada vez melhores perguntas e esperança.

 DA CASA


A comodidade da casa própria (quem já morou de favor sabe das penúrias...) e o acolhimento são realçados ao se recordar a característica básica do ser afro-brasileiro como um ser territorializante, abrindo vagas, procurando aconchego e reconhecimento em espaços até então interditos, dinamizando-os. Adaptando elementos, recriando vínculos nos terreiros e cazuás, roças de candomblé e Ilês que detêm forças de aglutinação, vivência comunitária e solidariedade, enraíza-se na divindade dos princípios cósmicos e na ancestralidade conjugando princípios éticos. Território é base para o movimento da força integrada, é alicerce do Muntu que carece de suporte para que se reúna e se espalhe. Este suporte pode ser um objeto, símbolo que reúne as condições funcionais e míticas em si, como pode ser o próprio corpo do pensador, orador, escriba, músico ou dançarino, feito território. O território, assim como o lar, nos agracia com o arquétipo materno e com suas imagens. Assim também é o templo com sua força assentada e distribuída pelos pejis, pelas cumeeiras. Templo que marca a vontade de harmonia com as forças cósmicas, entidades e divindades. E templo também é o corpo nosso, que sua. A tranquilidade que vem da morada, das profundidades e do ninho, que ameniza as quedas e os embates trágicos, as pelejas onde o triunfo é a meta (tão próprias à estrutura das imagens másculas, heroicas) também é valorizada pelo conforto e pelo envolvimento dos tecidos.

2 comentários:

Fanzine Episódio Cultural disse...


“IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”

A Academia Machadense de Letras (Machado-MG / Brasil) comunica a realização em novembro de 2013 de seu “IX Concurso Plínio Motta de Poesias”. As inscrições encerram-se no dia 14 de outubro (2013).
Para receber gratuitamente o regulamento em arquivo PDF, e outras informações, entre em contato através do e-mail: machadocultural@gmail.com

Obs: O tema é livre e aberto a todos de Língua Portuguesa e Espanhola. A taxa de inscrição é de R$5,00 pode ser enviada dentro do envelope. Favor verificar o recebimento do regulamento em pdf e jpeg.
O concurso será realizado no dia 09 de novembro, às 20:00hs no Anfiteatro da Prefeitura Municipal de Machado-MG.

Caso sua poesia (que não precisa ser inédita) seja classificada e você não puder aparecer, a Academia indicará um membro para declamá-la.

José María Souza Costa disse...

olá. Salve, salveo povo.
CONVITE
Passei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com