segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

SARAU ELO EM BRASA EM CHORROCHÓ -BA

SAUDAÇÕES.
Estivemos em Chorrochó para uma das maiores experiências de nossas vidas. Para nós, quase todos filhos de Nordestinos, estar em Chorrochó foi como visitar um passado que não vivemos. Encontrar aquele povo tão cheio de sabedoria, resistência e humildade transformou nosso jeito de olhar o mundo.

Fomos para essa cidade para fazer alguns saraus durantes as festividades do Senhor do Bom Fim, e o que encontramos foi uma verdadeira disputa política, de um lado uma prefeitura que se mantem no poder a vinte anos e do outro lado uma “oposição”, que mesmo não estando com o poder do Estado, mantem um poder, digamos paralelo, nessa cidade, mas o que vale registrar que nem de um lado nem do outro o povo parece ter muita voz.

Assim que chegamos fomos recebidos pela Associação dos Vaqueiros da cidade de Chorrochó, foi essa organização que nos forneceu um lugar para nos hospedarmos. Assim que nos hospedamos partimos para conhecer o local onde aconteceriam as intervenções de nosso sarau e mais algumas outras apresentações artísticas. O local, como esperado, era uma praça, onde estava montado um grande palco. Prontamente tivemos que recusar tal estrutura, pois nossa intervenção jamais poderia ficar sobre um palco, tão longe do povo. Assim que pudemos fomos para o salão da igreja, onde nos prepararíamos para intervenção, e lá aconteceu um momento histórico, pois até nossa chegada nenhum outro grupo havia batido tambores dentro daquele espaço, e alguns poucos anos atrás o povo nem sequer podia entrar dentro da igreja. Por volta das 22h00 partimos para nossa primeira intervenção e não partimos sozinhos, assim que saímos do salão fomos acompanhados por um grupo de crianças sorridentes, que já dançavam ao som dos tambores e em poucos minutos já cantavam o nosso tradicional canto, convidando os poetas de longe e de perto para nossa comunhão da pão-lavra.

A primeira intervenção reuniu um grande número de pessoas que estavam extremamente curiosos para saber o que aquele grupo (Elo em Brasa) estava fazendo ali, vindos de tão longe. E na primeira noite ninguém da cidade resolver compartilhar em nossa roda com algum canto, poema ou qualquer outra intervenção, mas durante todo o tempo ficaram de olhos atento a cada palavra ou gesto que fazíamos.

No segundo dia, o povo já estava mais a vontade com nossa presença e aos poucos foram se soltando e entrando na roda viva da palavra, pondo para fora alguns anos de “silêncio” em forma de protesto em verso e prosa.

Já no terceiro dia o sarau praticamente foi todo feito pelos moradores de Chorrochó, além dos poetas locais que participaram, também convidamos o grupo de Capoeira Axé, do mestre Lopes, para brincar com a gente. Foi lindo de se ver, o povo dançando, cantando, jogando e protestando a plenos pulmões e naqueles breves momentos puderam ser sujeitos de suas próprias histórias, sem ter que se sujeitar a nenhum interesse político.

Porém mais do que as intervenções o que mais nos marcou foram as relações com a população nos lugares onde passávamos, cada história ouvida, cada copo de água que bebíamos, sabendo o valor que aquilo tinha, cada olhar sincero, cada abraço, as contradições, nossas certezas que caiam pelos vãos da terra seca junto com nossas vaidades. Não foi prefeitura, nem oposição, que a todo tempo tentavam associar suas imagens a nossa que nos marcou, mas sim o povo, esse povo do qual nós também fazemos parte, isso sim nos marcou e com certeza para sempre. AXÉ




















Nenhum comentário: