segunda-feira, 30 de março de 2009

FUNDAÇÃO CASA


Alguns dias atrás fomos visitar o lugar onde o Estado guarda as conseqüências de um sistema insuficiente para a maioria das pessoas, Fundação Casa, ou se preferirem antiga Febem. Mas não fomos só para ver grandes muros e grades de aço, que como vocês devem imaginar tem aos montes. Também não fomos constatar o estado deprimente que o Estado lida com os meninos que supostamente deveriam ser o futuro da nação, mas fomos para acompanhar o amigo poeta Michel Silva, que desenvolve um trabalho com literatura nos lados de lá dos muros nas unidades da Vila Maria. Depois das já esperadas revistas que éramos submetidos a cada portão que passávamos, chegamos à sala de aula, onde os alunos já nos esperavam com certa curiosidade para saber quem eram os novos visitantes. Alguns podem nos chamar de loucos, sonhadores, mas ao ver os rostos daqueles meninos, que o Estado afirma que são perigosos e que devem ser “reeducados”, não conseguimos ver mais do que vítimas desse mesmo Estado, mas seguimos em frente. No primeiro contato parecia que pairava uma situação de total desconfiança, “o que essas pessoas estão fazendo aqui?”, mas depois de cumprimentar um a um, mostrando para eles que realmente os considerávamos como iguais a nós, a situação foi ficando mais “agradável”. Alguns meninos eu já conhecia do sarau rap, que acontece na Ação Educativa, outros dois, “infelizmente” logo se identificaram com a gente, pois eles também eram da Brasilândia. O Michel deu início ao bate papo fazendo as devidas apresentações, daí começamos nossa conversa regada a muita poesia, recitamos nossas poesias e logo os meninos se sentiram um pouco à vontade para também recitarem as deles, e o que vimos acima de tudo foi talento puro, através de seus escritos e desenhos desperdiçados dentro daquele lugar. Mas como nem tudo é tão tranqüilo, nossa conversa era acompanhada de perto, bem da porta, por alguns seguranças da casa e o que deu para ver é que eles estavam de olho na verdade no que os meninos estavam falando, e o que deu para perceber que o que realmente os preocupavam eram as possíveis denúncias que os garotos poderiam fazer. Mas nem toda essa repressão consegue frear a criatividade desses meninos, e mais uma vez a literatura se manifesta em locais onde a Academia Brasileira de Letras nem sonha que ela possa existir, levantando novamente o debate do que é a literatura? Pois entre os muros daquela prisão surgiram versos e prosas das mentes de garotos que nem mesmo terminaram o dito ensino médio, mas são munidos de muita vivência e criatividade. E assim correu nosso breve encontro, porém de grande reflexão acerca do que pode ser feito para que o destino desses meninos possa ser alterado, pelo menos um pouco. Ainda não temos respostas, se é que algum dia teremos, mas continuamos nossos trabalhos, conversando muito com eles para que juntos possamos chegar a um resultado positivo. E nesse mês de abril o Sarau Poesia na Brasa e o Sarau Elo-da-Corrente realizará um encontro dos poetas do lado de cá do muro, com os poetas do lado de lá, com muita conversa e poesia e quem sabe um dia todos possam se encontrar do lado de cá. Força a todos aqueles que acreditam no potencial daqueles meninos.

Valeu Michel pela oportunidade!!!

Um comentário:

Rui Mascarenhas disse...

Vagner, Paz!! TÕ colado nesse encontro futuro - me avise quando acontecer. Com o maior respeito e carinho, me apresento e me disponilizo. Saúde e Paz!! RM